16 de julho de 2011

#24Horas24Crônicas #17 - Luzes e Sombras

(tema sugerido por: @ofrango)

Quando as luzes se apagaram, ele ficou sem reação pela primeira vez.

Mas logo outra luz, mais fraca e acompanhada de um barulhinho de motor, se acendeu, emprestando vida ao mundo prateado que se descortinava a sua frente. Olhou desconfiado para cima, observando a poeira dançando dentro do pequeno feixe de luz que se alargava sobre sua cabeça. Mas logo a música explodiu, seduzindo toda sua atenção.

E, com a música, eles surgiram.

Pareciam com ele, mas de forma diferente. Suas cores eram mais vivas, e seus olhos traduziam todos os sentimentos do mundo. Seus cabelos estavam arrumados mesmo quando corriam, ou quando ventava. Suas roupas, sempre alinhadas a não ser quando heroicamente rasgadas.

E corriam como raios, brigavam corajosamente; amavam com ardor e sofriam honestamente. Sabiam dançar como anjos, deslizando pelo chão encerado; mas pulavam também, feito atletas, escapando do perigo. E defendiam os amigos, salvavam a mocinha e encarceravam o vilão, acompanhados do fiel parceiro e da música grandiosamente perfeita.

Tudo isso em frente a ele.

Tudo isso para ele.

Tudo isso até a luz se acender.

De volta ao mundo real, não entedia mais a ausência de cores e heroísmo, tampouco o silêncio sem música e sem justiça. Os beijos eram menos apaixonados, os socos pareciam doer menos, as corridas eram mais humanas. Roupas se sujavam, cabelos obedeciam ao vento, danças eram desengonçadas e tímidas. E os vilões estavam em todos os lugares.

Queria voltar para o escuro.

Lá, tudo fazia sentido.

Lá, o final era feliz e bem definido por letras brilhantes e vermelhas. Lá, as músicas eram mais que som, e sim porta-retratos sonoros. Lá, os beijos eram eternos e os apaixonados. Lá, os heróis eram festejados e os vilões rebaixados. Lá, as danças eram leves e os saltos, acrobáticos.

Lá, ele fazia sentido.

Por isso, sempre que podia voltava ao refúgio da escuridão que servia de portal para um mundo perfeito e de sonhos. Encostava-se e deixava-se levar pela emoção e pela risada, pelo amor e pela saudade, pelo medo e pela perseguição. Tiros e explosões, danças e multidões, épicos e campeões rimavam em seus sonhos.

E teria permanecido para sempre escondido e refugiado no mundo de luz e sombra e cores perfeitas, se ela não tivesse sorrido para ele um dia. Pois, quando ela sorriu, ele ficou sem reação pela segunda e última vez.

E conseguiu apenas dizer que o sorriso dela era tão bonito quanto o sorriso do cinema. E ela continuou sorrindo e nunca mais parou. Pois, em algum lugar do seu coração, soube que o filme havia acabado, com o final feliz anunciado pelas letras vermelhas e brilhantes que desenhavam, em seu coração, as palavras The End. Desta vez, sob a luz.

6 leitores:

Anônimo disse...

Lindo. Assim, de aquecer o coração.

Bia disse...

Que lindo, que lindo Rob!

Sem palavras.

Varotto disse...

Meu herói...

Brunín Assis disse...

Minha sugestão =]

E passou todo o encanto de estar na frente de uma tela gigante pela primeira vez! Fantástico Rob!

K.P. disse...

Rob, vc não tá sonado, vc tá com tudo! ;)

Mari Hauer disse...

Como assim vc escreve um texto desse com sono? Eu mal consegui le-lo, de tão lindo...

 

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