4 de dezembro de 2009

Fragmentos 03

No mesmo dia em que terminou o namoro,
se deu de presente uma televisão nova.
Para quem perguntasse,
respondia apenas “é ano de Copa”.


Ele se apaixonava somente por mulheres
que o inspiravam a escrever crônicas.
Mas conheceu uma que o inspirou
a escrever um romance. Casou.


Não gostava de viajar.
Viajava somente porque gostava mesmo
da sensação de voltar para casa
após passar dias em outro lugar.


Como de costume, o avô
passeou com o neto às 17:00.
Mas ainda eram 16:00.
O garoto, sem aguentar esperar,
adiantou o relógio da sala.


Na cerimônia de casamento dos amigos,
sentiu vontade de casar.
Durante a festa, queria namorar.
Acabou indo para casa. Dormiu solteira.


Cansou. Decidiu que
nunca mais iria se apaixonar na vida.
Mas não deu certo.
Acabou se apaixonando por essa idéia.


Comprou uma árvore de natal
e passou o natal sozinho.
Na noite de natal, abriu seu presente,
fazendo força para fingir que não sabia o que era.


Voltou para casa
e apagou os e-mails, rasgou as cartas.
O pior não era a sensação de perda,
era sumir com os vestígios e apagar a história.


Ninguém ficou sabendo, mas
ele só tirou a foto da ex-namorada
da carteira quando já estava namorando
outra menina há mais de três anos.


Toda noite, tomava banho e escrevia no blog.
Era a única hora do dia
em que se sentia completo.
Ou melhor, não se sentia sozinho.


No dia em que conheceria
a mulher da sua vida, o pneu furou.
Passou anos num casamento sem amor,
sem saber o que estava perdendo.


O poema mais lindo que ele
escreveu na vida nunca foi lido por ninguém.
Assim, ninguém ficou sabendo
que era o mais lindo do mundo.
Nem ela.


Apaixonaram-se logo que se conheceram.
A paixão virou amor.
O amor deu lugar ao afeto e este, à indiferença.
Vivem, hoje, em silêncio.


Ela brigava com ele, por todos os motivos.
Ele não reagia, apenas tentava apaziguar.
Um dia, ele perdeu a cabeça.
Ela nunca mais foi vista.


A mãe mandava ele dormir cedo.
Mas ele sempre esperava ela dormir
e ficava vendo o futebol, sem som.
Escondido no quarto, com o pai.


Assim como nos dois primeiros textos da série, todos os textos têm no máximo 140 caracteres e são dedicados aos meus amigos do Twitter.

5 leitores:

Morris disse...

Não sei voce, mas eu acho que em 1a pessoa ficaria mais twitter...

"mais twitter"... que vergonha de mim...

young vapire luke lestat disse...

sehr gut

Gordon.

[]s

disse...

Muito bom :-)))))

Varotto disse...

Pérolas de beleza gordoniana, como sempre.

Aliás, você já pensa nestes fragmentos como tal, para publicação em gotas, ou são idéias que você guarda para encaixar numa futura crônica, mas que ficaram cansados de esperar?

Anônimo disse...

Varotto

Eu tenho algumas idéias que estão sempre rodando minha cabeça, em busca de crônicas. Algumas vingam, outras não. e, das que não vingam, algumas vêm para cá.

Outras surgem na hora, quando eu começo a redigir os fragmentos.

E umas poucas quase nascem como fragmentos, mas acabam virando crônicas, como o novo Sonho que se Sonha Só.

Abração!

 

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