(leia O Mal aqui)
Pode parecer estranho, especialmente para vocês que lêem este blog, mas eu gosto de morar aqui. Gosto muito. E não estou nem falando sobre o fato de morar em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo. Não, o ponto não é esse.
A verdade é que eu gosto de morar com ele.
Eu sei que ele não é fácil. Aliás, ele é bem complicado, às vezes. Mas acho que é isso que torna tudo divertido.
Aquilo que ele fala sobre trabalhar demais, é verdade. Tem dias que ele chega e eu percebo que ele mal está se agüentando em pé. Mas ele sempre passa a mão na minha cabeça quando chega. Ele não abre mão disso. As únicas exceções são naqueles dias em que ele entra na sala já correndo e abrindo a calça, gritando “Sai! Sai!” e corre para aquele quartinho de azulejos onde toma banho. Alguns minutos depois, ele aparece na sala, mais aliviado, e aí, sim passa a mão na minha cabeça.
Mas eu tenho pena dele às vezes. Tem dias que ele chega mal se agüentando em pé, e janta ali na sala, comigo, vendo um pouco de TV. Aí, começa a lutar contra o sono e, muitas vezes, ainda senta no computador para trabalhar mais um pouco. Ou para escrever aqui, neste blog. E eu aproveito para dormir com a cabeça no pé dele.
Porém, tem dias que ele chega animado. E aí é dia de festa. Ao invés de apenas brincar um pouco comigo, ele resolve tirar a noite para a gente. Senta no chão, brinca de luta, conversa comigo. Às vezes, liga música, bem alto, e começa a dançar comigo na sala. Ele dança muito mal – eu, quando fico em pé só nas patas de atrás, danço melhor que ele – mas não me importo. Porque ele não está apenas dançando, ele está dançando comigo. E corre comigo pela sala, volta a brincar de luta e, mais importante que tudo, me abraça com saudade.
Mas o que eu mais gosto é quando ele pergunta como passei o dia. Eu, obviamente, só consigo latir, mas tenho certeza de que ele se importa com a resposta. Ele presta atenção no que eu digo.
Outra coisa que eu adoro é quando ele decide que vai dormir no sofá. Sim, eu durmo todas as noites com ele, com a cabeça em cima da sua perna – quando dá, claro, porque tem noites que ele se mexe demais. E, por mais que ele reclame, eu sei que ele adora o fato de que toda vez que ele deita, eu me sento no travesseiro e fico lambendo a cabeça dele.
Mas, voltando, gosto dos dias em que ele decide dormir no sofá. E ele não faz isso por cansaço (bem, admito: às vezes ele simplesmente cai no sono ali), mas normalmente decide dormir no sofá por molecagem, talvez para comemorar o fato de que não tem hora para acordar no dia seguinte. E aí passamos a noite ali, espremidos, cada um brigando por um pedacinho a mais do sofá. Mas, mesmo sem espaço, nenhum dos dois sai dali.
Agora, o interessante mesmo é o modo que ele conversa comigo. Nunca me esqueço aquelas vezes em que ele se senta no chão da sala, com as costas no sofá e conversa comigo sobre a vida dele. E me pergunta o que ele deveria estar fazendo, se ele está fazendo as coisas de modo certo, se está no caminho correto e se é uma boa pessoa. E eu, como não consigo responder, apenas deito e coloco a cabeça na perna dele e fico ouvindo. E ele entende minha resposta.
É nessas horas que eu percebo a importância que eu tenho ele. É nessas horas que eu percebo que não sou cachorro, mas sou amigo.
Isso fica claro, também, quando a gente briga. Sim, como bons amigos, nós brigamos. Batemos boca o tempo todo. E aí eu percebo que eu não sou um cachorro, sou um amigo. Porque ele não faz ameaças como me deixar de castigo ou me bater com jornal. Não, ele pergunta coisas como “o que você tem na cabeça?” e me chama de veado. E, você sabe, só amigos brigam desse jeito.
E nossas brigas, cabe dizer, nunca duram muito. Às vezes, estamos brigados, e ele aparece na sala com um cobertor perguntando se quero assistir a um filme. Antes da metade do filme, já somos melhores amigos de novo.
Agora estou sozinho aqui, ele foi trabalhar. Detesto ficar sozinho, mas sei que ele preferia estar aqui também. E, bem, mais cedo ou mais tarde, ele volta, o jeito é esperar. Mas ele volta. Porque todo dia, antes de sair de casa, ele passa a mão na minha cabeça, brinca atrás da minha orelha daquele jeito que sabe que eu gosto e diz:
– Estou indo trabalhar. Comporte-se. E, mesmo se eu demorar, não se esqueça de que eu volto. Prometo.
E ele sempre cumpre a promessa e volta. Às vezes mais cedo, às vezes mais tarde, mas ele sempre volta. E sempre volta com todos estes defeitos e qualidades que o tornam único. Mas, não posso culpá-lo. Afinal, ele é apenas humano.
Afinal, ele é apenas meu amigo.
20 leitores:
Querido Best-Fera, eu sempre soube que você escrevia melhor que ele. =)
Li primeiro O Mal. E, apesar de divertido, não tenho dúvidas que esse (O Bem) me emocionou muito mais. Principalmente porque não consigo enchergar um cachorro mal, debochado, egoísta. Pra mim, cachorro vai ser sempre esse que você pintou aqui: amigo.
Sou doido pra ver uma foto da besta-fera.
*enxergar
Bom, aqui a Besta-Fera não assinou, então o bem deve ser o false...
Bom, aqui a Besta-Fera não assinou, então o bem deve ser o falso... (2)
boa estratégia pra alavancar a audiencia do Chronicles né, Rob? hahaha
(nem preciso te falar o qq eu achei do texto. só fico babando ovo do chronicles...)
Besta Fera:
Tenha paciência, é só uma fase, vai passar. E como vc mesmo disse, ele é boa pessoa e sempre cumpre o que promete.
Mas não deixa ele te atazanar com as perguntas dele não, quem tem filho grande é elefante! Manda ele fazer terapia!
Ah! Concordo com a Gabi, acho que vc escreve melhor que ele também!
Beijos!
Gabriel:
http://champ-vinyl.blogspot.com/2007/04/pequeno-interldio-canino.html
Convenhamos que essa visão é mais romantica. A do mal, além de verdadeira é mais interessante .
Ambas boas.
;D
Ha! Me deu até vontade de ter um amigo como você, Besta-Fera!
Meu gato é muito parecido comigo, mal-humorado, rabugento e egoísta. E isso dá muita briga. Se ele fosse meu oposto, seria perfeito, haveria um equilíbrio muito bom.
Simplesmente emocionante.
P.S.[2]: Tô em dúvida sobre quem escreve melhor. Você ou o Rob...
=D
Que texto fofo... que cachorrinho fofo. Como assim, besta-fera? Ele é um flof flof lindo.
Conseguiu Besta Fera, meu coração se derreteu! Conseguiste arrancar lágrimas de emoção e me deixaste feliz por saber que existem cãezinhos adoráveis e solidários como tu. Melhor ainda é saber que existe também um lado que se diz "mau"( que eu já li),capaz de dar autenticidade ao teu testemunho.
"Afinal, ele é apenas humano "....
Eu também tenho um quadrúpede adorável como tu pra tomar conta de mim....
Tá, quase chorei...
"Bom, aqui a Besta-Fera não assinou, então o bem deve ser o false..."
Discordo. Pra quê a Besta-fera de verdade ficaria precisando se auto afirmar no blog? Ele não assinou porque tem tanta, mas tanta certeza de si que nem precisou assinar.
Acho que o mal é fake e que o bom omitiu alguns comentários que não o qualificariam como bom nem mau, mas simplesmente como humano... ops, canino.
Ai, gente, quase chorei. Que fofo!
Agora, vou ler o mal.
Apesar do Mal ser mais divertido, acho que o Besta Fera foi mais autêntico aqui ^_^
Lindo texto, adorei, parabéns para o seu cachorro :P
Até um cachorro escreve melhor do que eu...ô fase!
E eu esperando uma besta-fera. Brincar de lutinha com isso aí é muita covardia. rs
Boa jogada publicitária para o Chronicles! rs
Vou contratar o Besta-Fera pra escrever no meu blog, eu pago umas guloseimas pra ele =D
Me avise quando você decidir de parar d irar o seu empo para fazerem os outros chorarem, ok?
enho um Tung Stenio lá em casa que vai m fazer falta.
ai, Rob... reler esse texto me deixou mt triste =/
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